quarta-feira, 25 de março de 2009

Política e História

A troca de conhecimento entre os povos das terras mediterrâneas, e o progresso técnico-científico daí advindo, possibilitou sua expansão além-mar, atitude antes impensável. Uma verdadeira expansão de conquista que mudou a compreensão do ser humano sobre si, sobre seu planeta, sobre o espaço. Uma ampliação na concepção humana que, consequentemente, tornou possível o relacionamento entre várias partes do globo. Também possibilitou essa expansão o aprofundamento da organização político-administrativa do continente europeu, um movimento que acabou por segmentá-lo naquilo que seriam os futuros Estados-nação. Mesmo organizando-se separadamente, no fundo, todos esses grupos compartilhavam, através das idéias que circulavam na época, objetivos comuns: a busca de riquezas e a intensificação do comércio.

A descoberta dos novos continentes entra na História, a oficialmente escrita, nesse ponto. São os novos espaços, habitados por outros tipos de culturas, totalmente diferentes. São as novas terras com outras espécies animais e vegetais. Todo um universo desconhecido de simbologia, de conhecimento, uma outra fórmula de pensamento desenvolvido pelos grupos nativos.

No entanto, o objetivo do homem europeu era bem definido. Deveria ele conquistar as novas terras, subjugá-las e garantir seu predomínio no controle dos recursos que a ele interessassem. A troca de conhecimento, que tantos benefícios já havia possibilitado às culturas mediterrâneas, ficou a um plano restrito, em vez dela, aplicou-se a imposição, o domínio.

Nessa esteira temporal estaria aquilo que no futuro chamaríamos de Brasil. Em um primeiro momento, aconteceu o jugo português e a submissão de imenso contingente de população tribal nativa que teve sua liberdade e seu espaço suprimidos. Após esses primeiros contatos, inicia-se mais um movimento que entraria também na gênese do futuro país: a transmigração de outro imenso contingente populacional, os negros provenientes de diversas tribos da África. Eram essas populações negras que alimentariam o mundo do trabalho na América. Eram fruto da constatação de que a escravização do negro africano e seu posterior comércio, promovido pelos portugueses entre a África e a América, seria um negócio extremamente lucrativo.

Tendo conseguido encontrar a nova terra, tendo fixos seus objetivos, restava ao europeu, representado na América pelas coroas espanhola e portuguesa principalmente, manter a administração daquele imenso território. Era necessário, então, iniciar a construção de um profundo projeto político. Esta empreitada exigiu, mais uma vez, o aprimoramento dos mecanismos político- administrativos daqueles incipientes grupos ‘nacionais’ em formação na Europa.

O relacionamento entre metrópole-colônia, centro-periferia, baseou-se na estruturação de uma rígida rede hierárquica, construída ao longo dos séculos XVI, XVII e conseguintes.

No entanto, existe um movimento que nasce no interior dos domínios europeus na América e que passa a contestá-lo. Trata-se do processo da luta por autonomia política. Seu marco inicial é a independência das treze colônias que ocorre no norte do continente americano. Em seguida veio o século XIX que pode ser visto como o século das independências americanas. Depois, pode-se observar a continuação desses movimentos de libertação na África, na Ásia e na Oceania.

Muitas das nações que surgiram após essa ruptura política encontram-se defasadas em diversos aspectos, sendo um dos mais importantes a capacidade técnico-científica. Assim foi com o Brasil. Após a independência surgiu uma grande lacuna a ser preenchida. Havia uma enorme dificuldade em se reverter o modo de organização social e a estrutura de toda a cadeia dos processos produtivos (que eram muito mais eficientes em atender a demanda externa que interna). Aliada a essas dificuldades, encontra-se uma elite político-econômica já bem instalada, que se beneficiava do antigo sistema e não tinha maiores interesses em transformá-lo. Essa atitude fez com que a eminência de uma mentalidade voltada para o desenvolvimento nacional se processasse em um ritmo muito mais lento e de forma muito mais irregular ao longo de nossa história. Em verdade, pode-se dizer que trilhamos esse caminho até os dias atuais.

Hoje, porém, passados esses tempos difíceis, podemos acreditar que existe a possibilidade de caminhar rumo a uma emancipação efetiva e real. Para isso, faz-se necessário observar nosso passado histórico, buscando sempre compreender nossas falhas, nossos problemas e nossos erros de outrora para que possamos buscar o caminho para resolvê-los. Devemos compreender a nossa herança histórica como um auxílio no caminho para nosso progresso humano enquanto sociedade organizada.

Nesse contexto, um importante passo pode ser a resolução de grandes traumas históricos. Prestar ressarcimento a populações que sofreram severas espoliações ao longo da história de nossa formação nacional, como é o caso dos índios e negros, seria uma boa forma de buscar equilíbrio na balança social. Cabe a nós, enquanto brasileiros, reforçarmos nossa união interna para que, no futuro, possamos garantir dignidade a todos aqueles que venham a viver nessa porção de terra prodigiosa da América chamada Brasil.

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